Sobre os humores…

Deparei-me com esta foto, e, por identificação, pus-me a refletir. Passei alguns bons minutos olhando para esse balão murcho, desejando a sensação do balão cheio.

A juventude é mesmo fascinante. São tão mais leves os momentos murchos. É tão mais fluida a rotina. O vigor corporal e mental são divinos. As preocupações são ínfimas. As oportunidades parecem não ter fim, nem limites. A efemeridade parece ser só um detalhe. Somos pequenos polvos com enormes tentáculos fabulosos.

Mas, o que acontece com o tempo? Por que os momentos depressivos de balão murcho tomam os lugares que antes eram do vigor, da saúde, do ânimo e da leveza?

Amo a pessoa que sou. Sou apaixonada por mim e pela minha história. Mas, posso dizer com todas as letras que não é fácil ser eu. Principalmente, para mim.

Tive uma infância e adolescência bem peculiares. Passei a vida sendo “diagnosticada” asperger, ou, vulgarmente, autista, por ter uma maneira diferente de lidar com as pessoas e situações.

Desde criança, gosto de falar, mas o barulho me perturba. Às vezes, calo-me, mas é só para tentar ver se a mente faz um pouco de silêncio. Sou curiosa pela vida e pelo mundo, mas também preciso de momentos de reclusão. Amo as pessoas e carinho, mas não gosto que me toquem. Poucas são as pessoas que consigo. Sou amável e, aparentemente, calma, mas tenho uma caixa de explosivos dentro de mim. Procuro sempre exercer a perspicácia e a inteligência, mas sempre sou pega pela ingenuidade e o coração. Consigo ver e perceber além do que a maioria das pessoas, mas tenho dificuldades em compreender certas coisas. Sou honesta e sincera, mas tenho dificuldades em confiar nas pessoas. Sou atenciosa e perfeccionista, mas o caos também se instaura ao meu redor.

E, é essa última qualidade que venho desmistificar. Alguns chamam de TOC, mas eu prefiro enxergar como a busca pela perfeição, como algo harmônico, que gera paz e a sensação de dever cumprido, como em todo o processo de construção de um bonsai.

Nunca fui a melhor em nada. Nunca fui a melhor filha. Não sou a melhor mãe. Não sou a melhor dona-de-casa. Nunca fui a aluna padrão, ou a funcionária do mês padrão, nada além de metas cumpridas e números. Não sei fazer muitas coisas, e isso me aborrece, porque eu sempre tento. Até que a gente percebe que não dá conta.

Sinto um enorme peso por viver na peleja entre o ser e o não querer ser. Sempre busquei a perfeição, para tentar encobrir a evidência dos meus inúmeros defeitos e dificuldades.

Sei de minhas habilidades e competências, mas sempre fui refém dos meus limites. Tenho pânico de provas. Tenho pavor de errar. A minha resiliência tem um limite bem menor do que eu gostaria, e eu sempre culpo o meu intelecto, que chamam de extraordinário. Descobri que meu excelente condicionamento físico, infelizmente, é comandado pela minha mente, e ela, muitas vezes, falha nas ordens, e o corpo também já não aguenta muito mais.

Sempre busquei algum lugar de destaque, mas não pelos holofotes, e, sim, pela agradável sensação de ver as coisas de um outro patamar, e ser reconhecida. Seria tão bom ser a melhor em algo.

E, assim, venho vivendo: lançando-me a inúmeras incertezas, somente tentando acertar e ser boa em algo. Pois… tenho recém completos 35 anos, sou formada, porém desempregada, vivo de freelas, e adoraria voltar a ser “mais novinha”. Não que tenha sido mais fácil a juventude, mas pela sensação de suportar mais.

Não sou fã de falta de doação no que se propõe a fazer, mas sempre sou desarmada pelos meus limites. E, lá vamos nós tentar encontrar o nosso lugar no mundo, minha mente e eu, onde parece não haver espaço. E, em tudo eu tento me fazer caber.

Pois, esse esforço excessivo pela perfeição, por querer compreender tudo, de controlar tudo, de ter as rédeas mantidas sobre todas as situações, tudo isso, ao longo do tempo, desgasta.

Hoje, sou muito mais do que eu era. Já preenchi muitas bagagens, ao longo dessa vida. Mas, percebo que suporto menos, mas não suporto menos. Paradoxal, não? Pois… as cargas pesadas são sentidas por todo o corpo. Ele grita. A chikungunya foi só mais uma coadjuvante na história. A mente e o corpo pesam uma tonelada, e não suportam mais o menos. Fiz-me compreender, ou parece divagação?

Vocês já se perguntaram o quanto de menos vocês vêm suportando?

Eu tenho uma lista extensa, e venho tentando respeitar os meus limites para caber nos lugares, nas vidas das pessoas, nas situações e em mim.

Ninguém quer adoecer. Ninguém quer falhar consigo e seus compromissos. Ninguém quer falhar com a família e os amigos. Ninguém quer ser menos do que deseja ser. Ninguém quer perder a paciência. E, é quando o balão perde o ar, o fôlego, o vigor, a confiança, e murcha.

Ninguém precisa de pressão e choque de realidade. Seres humanos precisam de amor, de apoio, de freio, quando a vida acelera mais do que a potência do motor, e principalmente de compreensão.

Ninguém quer ser um balão murcho, mas é bem difícil segurar o fôlego, e manter o ar preenchendo os pulmões. Essa apneia cotidiana pressiona o cérebro e a mente, e os vasos e a paciência se rompem. E, sangram.

Vivo sangrando. Passamos todos a vida assim. E, essa rotina anêmica nos torna anímicos: perdemos a alma, o encanto, o brilho, a força começa a cessar, e vamos deslizando ao solo, como o balão que perde o ar.

É quando as boas vozes fazem falta. Aquelas que nos compreendem, e dizem e demonstram que não estamos sós, e que tudo ficará bem. Caridade, irmãos, é o que nos falta. Doar sangue, ar, ou amor a quem precisa, nunca fez mal a ninguém.

(Alessandra Capriles)

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