Do outro lado.

Na moldura, duas vistas
Uma de aterro, a outra desterro
Deste lado, as coisas como são
O tempo, o passado
O presente que afasta
O futuro que arrasta
As marcas do desgaste que descamam a pele da parede
O viço da passagem temporal que enrruga a paisagem
Os suntuosos Arcos do antigo aqueduto
O Circo sem lona
A Catedral dos infiéis
A Associação dos moços sincréticos
A boemia que perdeu seu chapéu
O silêncio do mundo na vida mundana
O malandro que não saiu de casa
Os inferninhos que aderiram ao céu
Palco de inúmeros números
À sorte que se lança a nós
E, viramos todos Ratos, longe do Beco
Entocados em suas jaulas, sem roda gigante
Como experimentos de um novo tempo
Coroados pelo vírus da quarentena
Que nos desatou as mãos
E, em coro, atou a alma
Nas vozes que gritam por um novo tempo
Além da Muralha e dos caminhos de Roma
Já é possível ver do ar a cortina de fumaça oriental que dissipa
As águas das gôndolas que se abrilhantam
As ruas desinundadas de nós
Pequenos experimentos de rabos gigantes que ganharam asas na noite
Mas, os daqui não voam
Foram mordidos por abraços, tatos e beijos
Pequenos seres vadios
Isolados dos bandos
À sorte, à míngua, à deriva
De seus próprios bondes sem trilhos
Realinhados ao destino
E, vemos um vírus fazendo o que até Cristo tentou
O mundo parou para assistir, de sua própria plateia, a si
E, nos créditos, quem diria, a ciência e a fé
Por diversas vielas e esquinas
Somente o silêncio
O breu já nem se avista mais
Propagamos algum feixe que ainda nos habita de luz
Reacendemos a chama das velas que nos acendem mente e espírito
E, nos encobrem de inebriante esperança
Do que não costuma faiá
E, quem embasa é a ciência
Que ensaia em tubos o que silenciou o som
Das noites boêmias, do tilintar dos copos, dos tragos
Dos corpos, dos tantras, dos desejos
Que sucumbem a carne, e dilaceram o peito
Já nos faltava o ar, antes mesmo de Coroados
A majestade nos retirou o cetro e a coroa
E, nos fez olhar mais para invisíveis coroas
Anciãos de tantas histórias
Que carregam a mesma fragilidade que descama as paredes da memória.

(Alessandra Capriles)

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