Rubra luta.

Não há cessar
Somente rubra dor
Sangro a carne alheia
Sangra o ventre a dor do ciclo sem fim

Tantas guerras para tão poucas batalhas
Ganha quem mais leva o ouro
E, o que é a guerra se não o lucro?
Por isso, luto!

E, a cada vitória inimiga
Vence o bem que em mim habita
Pelejo forjada no aço e no vento
No acalanto das ondas
Que marujo algum navega

Quem me guia o leme não tem mãos
Nem braços, face, ou traços
Não há esboço algum
Que me navegue os passos

Terras armadas criam guerras sem fim
Territórios, divisas, muros
Patamares, andares, paredes
Alicerces que desabam pela ganância
E, tantos outros interesses a fim

A quem pertence a guerra?
O diabo também reclama o povoado
De quem o Homem se livra em vida
Cava mais fundo ele sua própria dívida

Não há mais luta que se lute fria
Os calores terrenos conclamam valores
E, o que há de mais valioso
Se não a própria dádiva da vida?

A densidade é somente demográfica
Bandeiras querem terras de outras nações
Flâmulas se erguem em prol do ouro
De toda a riqueza de povos outros

Deus é general na boca do Homem da guerra
Não no coração dos que dominam a Terra
Os donos são muitos, perante os que nada têm
E, assim, troca-se vida por qualquer reserva
E, o pulmão do mundo já pouco a tem

E, estamos no fim
No fim do mundo e de tudo
Nenhuma luta em vão é se não o luto
Não há raça, gênero ou credo
Nada mais que se lute sem visar o lucro

Empreende-se na guerra
Incompreende-se o Homem
Desprende-se a Fé
Já não há mais Deus, sem que reluza
A justiça cega só vislumbra o tilintar da taça

Brinda-se o sangue em crânios
Em poças, destroços e escombros
Em irrespiráveis ares tomados pela poeira
O aroma da guerra é fétido
Seja do canhão, ou da marreta
O entulho não é mérito

Serras, pólvoras, machados, ou bombas
Pulmões explodem incinerados pelo verde
Que desmatam em nome dos donos da Terra
E, não é Deus

Nenhuma luta mais é senão pela riqueza
A nobreza nunca saiu do seu castelo
Nem de dentro do Homem
Impera a cobiça, a ganância, o poder
O que era para ser sentimento, é sentido
Pela dor, ou pela continência
Contingentes de insanidade e rivalidade

A partilha virou testamento
A comunhão escomungou
Já não há mais irmãos
Sóror não tem idade
Rima somente com rivalidade
Desigualdade, ou validade
Seja por prazo, ou material valor
Doar de si, um penhor

Mas, luto.
Mesmo que o cerco se feche
Mesmo algemada na alta torre
Luto!
Porque não almejo o ouro
Nem patamar, ou alicerce algum
Eu vivo na Terra

Mesmo que a mente orbite outros planetas
Mesmo que o Sol não seja o astro
Mesmo que brilhe somente
A projeção de fora da caverna

Luto com os deuses ocultos
Que me tomam pelas mãos, e me guiam
Em cultos que Homem algum rege
Meu Deus não tem nome
Porque se o defino, dou eu voz à guerra

Afirmo minha Fé na natureza
E, na Divina dureza do meu próprio corpo
Sangro, porque estou viva
O rubor que sai de mim
Expurga o que há de impuro no mundo

Carrego nas entranhas a força anímica
A anemia não me toma
Não me falta o ferro
Porque meu Pai e minha Mãe me forjam
A cada despontar de um novo dia

Sou filha de toda a natureza e riqueza
Que Homem algum compra
Meus valores não estão nas prateleiras
Minhas estantes e estandes são de conhecimento
Que luto para alcançar, e firmar minha bandeira
Mas… bandeira? Para que tantas?

Não empreendo na luta
Minha compreensão é a razão
Habito na guerra de quem quer paz
Na voz de quem não se cala à injustiça
De quem muito já colocou o corpo à prova
Levaram minh’alma
E, nem sequer lavaram meu templo
Da imundice das mãos impuras
Quiseram me trocar por suas próprias tumbas

Mas, resisto, e luto.

Livre como um ser alado
Ressurjo das cinzas da guerra
Em meio ao pó alheio
De quem dele veio, e a ele retorna a cada dia
Até que tudo seja brisa e vento
E, nada mais reste, nem vestes
Até que se desnude a face das sombras
E, todo o firmamento clareie

Não tenho lado, nem centro
Não tanjeio, nem paralelo
Habito no planeta do Povo
Na mesma esfera da minoria
Onde também habita a maioria
Sou da raça dos iguais
Do gênero neutro de grande soma
Do credo de quem tem Fé
E, luta, mesmo na dor

E, nada há de belo nessa dor sem fim
Nesse sangue derramado
De quem nasce minoria no mundo dos desiguais
De quem sangra sem saber porquê
Como na guerra do mundo
Que sucumbe sem entender

Nada mais há de belo, senão o nascer
Seja de uma vida, ou de um novo dia
Seja da paz, ou qualquer boa ideologia
Seja da flâmula alva, ou da presença de todas as cores
O mundo inteiro é a nação
E, se assim todos vivessem
Não mais haveriam bandeiras
Somente um mesmo céu
E, uma mesma terra.

(Alessandra Capriles)

O riso…

Todos os dias
Nem que por um segundo
Mesmo que esboço
Mesmo que não se veja
Mesmo que não se sinta
Rio algo parecido com um sorriso

Vez ou outra, gargalho
E, é só quando se nota

No restante dos dias
Pareço triste
Carrego a tristeza em meus braços
Uma tristeza natural, inerente
Que só a outros olhos torno evidente

Mas também
Há alegria na tristeza
Mesmo que não haja a certeza

Creio que sinto o sentimento Mona Lisa
Ali, cercada, atada a um Louvre qualquer
Uma masmorra de vidro
Na vigilância de olhos, alarmes e câmeras

Protegem o corpo obra
Emoldurado, amordaçado…
Mas, o que deveras diz o seu riso?

De todas as direções que os percebem
Fitam somente os olhos de Gioconda
Sensíveis olhos ao meio
E, os preservo através das lentes
Disfarço olhares a quem somente
Anseia outros olhos

Dialogo além de lábios, gestos e pupilas
Meu verbo é de sentir
Não de ver, nem ouvir
O que escondem meus olhos
Somente olhos atentos tateiam

Por isso, rio
Ora alegria, ora melancolia
Ora crítico, ora sarcasmo
Pouco rio com a felicidade
Jamais dela, minha, ou aquém

Meus olhos mais choraram
Do que já sorriram
Mas, rio…

Rio por graça e com graça
O valor e teor
Que mensurar o humor
E, avaliar o coração despretenso

Não rio em vão
Não gracejo sem verdade
Da mais árdua ironia
Ao mais sincero sentimento

Os olhos eram dela
Mas, o olhar era de Da Vinci

É como traduzir uma obra
Não se interpreta o que vê
A resposta está dentro do peito
No próprio sorriso
Na alma individual
De cada ser que sente o riso

Não importa se arte pela arte
Ali também há um artista
Nenhuma obra é sozinha
Se não a Divina

Rir é uma arte
Até no semblante mais áspero
Habita algum sorriso

A morada dos fortes é um templo escuro
Iluminado pelo sorriso que carrega oculto

Assim, ilumino minh’alma, e guio
Nas profundezas de um templo obscuro
Outros risos
Que adentram ao meu sorriso

Poucos entram, muitos saem…

Gargalho e transbordo o espírito
Àlguma maneira, clareio o meio límbico
E, não desisto.

Mas, não é sempre
Na maioria das vezes
O céu é cinza
Stratus, Culumus, Cirrus
Formam o firmamento
Mas, o sol está ali
Mesmo que não se veja

Assim também é o riso…

(Alessandra Capriles)