Volta ao tempo…

Não consigo encontrar dentro de mim um sentimento de empatia. Não consigo expressar nada além de um olhar distante, de quem, com tamanha tristeza, tenta enxergar alguma esperança ao final dessa fúnebre apuração de votos.

Não. Não estou triste pelo partido, porque não visto camisas partidárias, senão ideológicas.

A minha angústia é por ver a triste história, mais uma vez, fazendo-se um fato, e que terei que compartilhar isso com todos aqueles que amo.

Fico triste por ver todos os ideais pelos quais lutei a minha vida inteira, despedaçados nas palavras proferidas por um homem que, em breve, assumirá nada menos do que a liderança da minha nação, e que verei a minha pátria, que tanto já sangrou por tantas outras batalhas, mais uma vez beirando o retrocesso ditatorial.

Ouço e lembro, nas palavras ácidas desse homem, como em um filme, todas as vezes que ouvia alguém criticar um amigo, conhecido, ou não, pela sua opção sexual, religiosa, sua raça, ou classe social, e eu os defendia com todas as minhas forças, porque sentia a dor de cada um deles, como se doesse em mim tal preconceito.

As palavras dele doem em mim, como nas inúmeras mulheres que sentem o peso de somente ser. E, eu como mulher e mãe, que durante muito tempo carregou o peso do “solteira”, sinto-me na obrigação de vestir a camisa da razão e do discernimento.

Não consigo confiar em quem prega o discurso do ódio, embasando sua mediocridade no armamento da população, enquanto defende o ensino exclusivo à distância, desde o fundamental, como uma forma ditatorial de afastar os alunos dos debates, com aulas gravadas. Uma coisa é ensino remoto, outra coisa é aula online gravada, robotizada, enlatada, como um fast food. Esse homem não entende de educação, e também não quer que você entenda.

Vê-se o tamanho despreparo de quem não conhece a realidade do povo, que já, por muito menos, troca seus livros por armas, mesmo sem uma boa desculpa para se distanciar das salas de aula e do convívio social, enquanto suas mães, que além de terem que carregar o fardo de sustententá-los, muitas vezes sozinhas, ainda têm que monitorar a educação deles, sem um acompanhamento presencial, ou remoto, mesmo sem poder abrir mão de suas próprias vidas. Creche? Babá? Com um salário mínimo e altas taxas, esquece… Melhor mesmo ir se virar nas ruas, pegar sua arma, e escolher o seu lado da guerra. Qual será o calibre que brilha mais?

É como um fatídico remake de Farenheit 451. É assim que vejo a educação tomando seu rumo. Falta conhecimento. Falta preparo. Faltam um plano e uma trajetória política de projetos relevantes. Falta bom senso. É um prenúncio ditatorial. Ouçam o que digo.

Enquanto sobra boçalidade no verbo, na fé e na atitude de quem não sabe discernir o básico.

Não leciono nas salas de aula convencionais, leciono no cotidiano, na vida, no dia a dia, mas o pouco que presenciei, durante a vivência que tive, foi suficiente para que a minha missão se tornasse militar, na militância diária por onde eu passar, pela ética, pelo respeito, e pelos direitos e deveres igualitários e democráticos. E, dessa luta eu não abro mão.

Não por partido, não por direita, nem esquerda, mas por mim, pelos meus e pela minha nação, que eu me incluo no luto e na luta. Os verdadeiros ideais me importam mais.

(Alessandra Capriles)

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