Sobre a família tradicional brasileira. (escrito em 16 de novembro de 2015.)

Em meio a tanta lama se espalhando, tantas ideologias cegas sangrando, é inacreditável ler postagens nas quais instituições ainda associam a mulher a atribuições domésticas, como se um homem não fosse capaz de exercer tais funções em prol da esposa ou do marido e dos filhos, ou a mulher em prol da esposa e dos filhos. Pois, só mulher hétero cuida de casa, leva e busca os filhos na escola, faz compras, prepara café, almoço, janta, resolve pendências domésticas, cuida dos filhos e do marido machão.

Como se não houvessem pais solteiros, pais homossexuais, mães solteiras, mães homossexuais, tios, tias, avós, ou outros entes que desempenhem tais funções. Pois, a doutrinação não fica nem implícita, fica totalmente explícita a ideia de que família é pai e mãe e ponto final. E, mãe fica esquentando a barriga no fogão, esfriando no tanque, e preparando cafezinho, eternamente, como em um comercial de margarina.

Tais falhas poderiam até serem vistas como um erro, uma atitude impensada, mas não. São pequenos detalhes, que só percebe quem, realmente, não se aliena, nem se impressiona com “merchans”, nem acata em silêncio como quem diz “amém”. Isto é um filtro e uma forma de dizerem “nós defendemos e pregamos a ‘família tradicional brasileira'”.

Enquanto isso, o mundo segue como segue por conta de ideologias e outras ignorâncias mais…

A violência tem diversas formas de se propagar, e esta é uma delas. Como se já não bastasse tanta lama, tanto sangue, tantos deuses para tantos povos, tantos políticos para tão pouca política, e tanta politicagem. Tão pouca fé, tão pouco amor, e nenhum respeito. Deus virou presidenciável, bélico, um juiz federal, e não de paz, um justiceiro, um diplomado, um general. E, quem não os crê? E, quem há muito já deixou de crer?

Árdua missão essa de se viver em meio a tantas hipocrisias, enquanto o mundo se explode, se rompe, corrompe, e quem paga é a plateia, quem assiste à desgraça à beira do Rio, quem é pego de surpresa, ou improvisa calado, temendo à morte, o fim, o silêncio eterno, e o cada um por si é a única opção. É tanta vulnerabilidade, que a fé tornou-se credo de uma doutrina só, e cada um defenda a sua, porque mais vale quem tem a razão, e já não é mais doce, e as barreiras que deveriam se romper, mantêm-se todas impenetráveis.

Um viva à família tradicional brasileira que lamenta calada no sofá da sala, assistindo ao jornal nacional… Ah, mas pelo menos trocaram as cores das fotos desta vez… desta vez…

(Alessandra Capriles)

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