Do leito.

Eu queria escrever um poema, mas acho que não cabe mais um poema no que ainda há de tempo. Não saberia escrever mais um verso de dor, uma vez que acreditava tê-la abandonado no passado, logo após fazer as pazes com o amor de papel passado. Não quero deixar aqui, nesse mundo, mais dor aos que ainda a sentirão, menos ainda aos que amei. Por amor, escrevi uma nova história, sem linhas e rimas, mas enredos táteis, como uma nova descoberta, liberta de qualquer dor, ou ilusão. Ilusão. Amor. Amar. Doei todos os meus erros tentando acertar o sentimento, e, sem dó, amei. Não saberia ter vivido uma vida sem tal sentimento. Mas, nunca entendi. Nunca compreendi porque o amor não vem primeiro, nem sozinho. Não. O amor traz medo, desilusão, abandono. Sempre ele. O bater da porta que nunca volta. Desde sempre, todos se foram. Com suas bagagens sedentas de outros destinos. Nunca entendi porque todos os que amei se foram. A figura paterna, com sua enorme bagagem. Era muita. Não se pode levar tudo. O colo fraterno, que me levava nas costas, pela casa, onde nunca mais pisamos todos juntos. E, outros eros. Tantos outros. Tantas casas. Tantas portas. Bateram, sem mais abrir. Então, resolvi abrir as portas, novamente. Mesmo sem casa. Queria construir a minha. Não lembrava mais do som do batente ao fazer-se jus. E, ele resolveu fixar em minha mente. Bati de cabeça. Mergulhei com tudo. Na despedida ficou só a dor e o ardor da lágrima. Mas, não só o batente. Quebrei a cara. Vocês sabem o quanto dói quebrar a cara? Ainda sinto doerem os ossos. Mas, não lembrava que doía tanto. E, as imagens do tempo não apagam nem uma fissura. Pois. Não vim aqui falar de dor, senão teria escrito um poema. Mais um. Ou, menos um. Só me perdoe por não conseguir ser mais direta, mas é porque falar sem outro “eu”, para mim, é distante. Por isso, estou aqui. Mesmo que de passagem, como todos. Até os de despedida. Queria ter coisas boas para deixar. Mas, não as tenho nem para levar. Exceto alguns retratos. Um sorriso, um rebento, algumas lambidas, e alguns outros amarelados retratos, no passado de uma árvore que se partiu. Pois. Perdoem a lamentação, sem fim. Prometo não mais importuná-los. Vamos voltar a falar do amor. Mas, como se fala mesmo? Nunca soube. Mas, já senti. Senti o amor tão grande atado ao sonho, que, de tão bonito, esqueci de desatá-lo, e assim vivi, oniricamente. Ah, meu Deus, mas já estou eu, novamente, a falar de dor. E, ela sempre vem. Sempre à espreita. Como quem também ama. Como quem vive do meu dissabor. O amor não se ata à covardia. As alianças eternas são atadas somente a quem se entrega. Mesmo que solitária se rompa em seu leito. Descansa o corpo, a mente, o batente, a porta, o punho, o latente, meu pulso, meu átrio. Só o amor não descansa. Mas, cansa. Nessa dança, o sentimento perde o passo. O peito acelera. A respiração aumenta. Fatiga. E, olha só quem vem. A esperança não se cansa, mesmo quando bato a porta. Pois, cá estamos, nesse leito, juntas, dissertando linhas desconexas sobre o desconhecido. No intento de somente dizer mais um ‘eu te amo’, a fim de repousar a dor.

(Alessandra Zabala Capriles Hosken)

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