Retratos Guardados. (Escrito em 26/12/2011)

Nem uma lágrima, palavra
Nada mais transbordava
Sorrisos tantos eram
Nenhum mais esboçava
Diante daquele álbum de histórias
Distante daquelas tantas lembranças
Revivia uma a uma depois de tanto
E tanto mudara daquele tempo
As cores das fotos
O viço da face
O tom dos risos
Tão belo sorriso
Seus olhos sorriam quando felizes
E o quão eles eram…
Seus gestos flutuavam a cada melodia
Sua alma e seu corpo não se distinguiam
De tão perfeita que era a harmonia
E quando cantava, mesmo sem muito saber
Era belo ver e ouvir
Tudo o que ela tocava virava poesia
Tudo se transformava em canção
Aos seus olhos tudo era belo
E seus olhos às descobertas eram tão mais belos
Tudo o que ela queria era viver
E como almejava saber
Tudo era motivo para admiração
Como criança ao desvendar novas descobertas
E assim por muito foi…
Mas para onde?
Buscando em cartas, letras, caixas, canções
Revirando poesias, sentimentos, armários
Diários, cadernos, paixões
Em nada mais encontrava o que havia perdido
Estava lá, aos olhos de todos
Mas de embaçados ela não os via
Seu apático olhar
Preso naquela visão retorcida
Do velho espelho de moldura dourada
Tomava conta de seu presente e passado
Ali aprisionada naquela imagem envelhecida
Do tempo que para ela andava apressado
Corriam os anos paralisados
Naquele ciclo que não se vencia
Tornou-se a menina prisioneira de seu próprio sonho
Dos tantos retratos e fatos
De tudo o que ela mesma escrevia
Sua vida adentrara aquele sonho
E suas linhas eram sua própria escrita
E assim os versos viraram ciranda de roda
Naquele emaranhado de palavras que não desatavam
Gritava em silêncio ao esperar ser ouvida
Mas nada
Sem saber o que era verdade
Sem saber o que apenas poderia ser escrito
A menina gritava nas folhas
E se calava nos cantos
Essa inversão de papéis em sua vida
Zombava de sua própria loucura
E assim vasculhando retratos, revirando passado
Achou um caminho para aquela busca
Repercorreu linhas e em cada parágrafo
Viu dar adeus cada uma daquelas imagens
Em meio à estrada, novos velhos personagens
Aqueles coadjuvantes já esquecidos
Alguns pelo tempo mudados
Outros envelhecidos
Somente por observá-los viu-se passar por ali correndo
Mas quem falou em revirar o passado?
O tempo lhe mostrava o enredo para seguir a história
Daquele regresso
Ficção lhe tirou do reflexo perdido no tempo
E apontou adiante o leme do barco
E lá à frente estava ela no pier
Estonteante após aquela longa espera
Aquele mesmo sorriso
Aquele mesmo brilho no olhar
Nada se perdera
Nada era velho visto de lá
O tempo que passara realçou seu semblante
E ela esperava a chegada
Como quem espera o amor vindo do mar
O reencontro dela com a personagem perdida
A fez ver que também sabia chorar
E era tanta alegria
Juntas venceram a distância e o tempo
Juntas já podiam viver a mesma história
Juntas voltavam a ser ela e seu verdadeiro retrato…

(Alessandra Capriles)

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