O tempo da Terra.

Há um mistério no horizonte
Onde o sol arde tudo o que toca
Pairam pensamentos longínquos
Em vão e desalinho
Buscam o calor do encontro
Ultrapassar distâncias
Mas, o peito cala no suspiro
Nesta redoma coletiva que nos consome.

Temos todos sete cabeças
Como bichos insanos
Irracionais em seus próprios ninhos
Na clausura do tempo
Contaminado por nós
Anseios mesquinhos
Inóspitos, inglórios
Recortes das horas
Que aprendemos a contar
O tempo que somente passava
E, nunca havia.

Perdemos-nos todos em meio a tanto
Tanto ouro incandescente
Tanto a tão poucos
Enquanto aprendemos a ver o sol nascer
E, admirar seu corpo celeste queimar nossos corpos e retina.

O vento nos afaga a pele
Poros úmidos do ardor do sal que doamos aos dias
De sol a sol
Aos astros não celestes que esfriam ao nos ditar as horas
Movemos o mundo como máquinas
Que criamos para nos dizer quando parar
Para reinventar a obra divina
De nossa própria colheita
E, assim, cavamos o caos
Ceifamos a terra
Pisamos o barro
De onde todos viemos
E, onde, ao fim, todos nos deitamos.

Mas, vai passar
Como o tempo passa por nós
E, despede dos que se vão
Em sacrifício ao nosso tempo
Quem ainda conta o tempo?
Quem finda seus dias ao solo?
Quem viramos para escolhermos vidas?

Caímos todos em nossos próprios contos
Em permutas por contas vencidas
Golpes dados a tantos como nós
Que, no fundo, somos todos gente
No mesmo poço, no mesmo chão
Nos mesmos sete palmos ao limbo
Ou, enterrando aos montes tantos como nós.

Raça humana, de mesma cor
Classe de mesmos seres
Cegos, não vemos tons
Vedados, acorrentados, amordaçados
Nascemos aos moldes do mundo
Que já não é o mesmo do Criador
Somente criados
Criaturas caricatas inventadas ao tempo
Que nos perdemos tentando reinventar nossa própria solidão.

(Alessandra Capriles)

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