O que se eleva, não morre.

E, se amanhã eu for
Não quero lágrimas
Pois nenhuma terá o sal
Do que se foi sentido.

Nenhuma terá o sentimento paralisante
Do que antes o fazia pulsar.

Não haverá uma lágrima que conte as dores do corpo.
Nem até onde chegou a alma.

Nenhuma lágrima terá sentido
Uma vez que nada se tenha sentido.
Uma vez que nada tenha sido tão latente
Quanto o fardo do que latejou o corpo…

Não falo de feridas da alma
Porque a alma se regenera aos atentos.
Nada sucumbe o espírito de quem se eleva…
Nem a morte…
Nem a sorte…
E, essas são as únicas certezas de quem vive e crê.

Penso na leveza do espírito livre
Sem mais o fardo do corpo limitante…

Os limites da carne são os ditadores da vida.
Não há como ser livre
Quando o corpo assim não o permite.

Dói carregar um corpo que pesa…
Mais do que o fardo de carregar um outro.
É o peso do espírito que carrega o seu.
E, ele pesa…

Cada vez mais, o corpo pesa.
E, ele esquenta, sua, lateja.
Dói…
Expurga o que adentra à boca.
Segura o que se deveria expelir.
E, dói.

Nenhuma ferida na alma doeu tanto quanto me dói o corpo.

Acho que meu espírito foi preparado para suportar as dores que fossem a seu encontro, como se fosse, de fato, livre.

Mas, não as que lhe incumbissem ao corpo.
Esse é fraco…
São somente ossos, pele e outros órgãos.
Uma flecha aos flancos
E, ali finda o corpo.

A alma e o espírito, não…
Quantas não foram as que lhes saltaram do arco ao peito.
E, a vida sempre continua…

O corpo morre.
Adoecer o corpo é startar um cronômetro.
E, as dores se multiplicam
Como pequenas bactérias
Que inflamam…
E, somente elas resistem
Após a morte do corpo…

Contamos o tempo
Sem saber a quem.
E, ele passa apressado.
Atravessa cada membro.
E, perpetua somente a dor…

A alma e o espírito, não…
Estão prontos…
Compreendem o que não compreende o corpo…
O que não se sabe.
E, talvez nunca saberá…

O corpo pesa.
A alma e o espírito, não…
Estão leves e prontos…
Só querem poder voar
Lá para onde existem outros…
Que também voam…
Livres…
Libertos…
Sãos.

Lá para onde se bastam.
E, onde eu acredito que haja amor.
Porque onde há liberdade
Deve haver amor.

Quero flutuar…

Mas, o corpo pesa.
Há uma âncora atada aos membros…
Cada um que constitui uma função…
E, não mais bem funcionam…

Órgãos e membros são como nós
Quando perdem suas funções:
Não servem mais.

De nada serve o que não mais serve…

E, a alma e o espírito o querem abandonar…

Até a alma e o espírito também o querem abandonar…

Mas, não julgo…

São os únicos que fazem bem ao corpo…
E, o servem uma vida inteira…
Mesmo aos corpos
Que não os dão função…

A caridade da alma e do espírito são a serventia da vida do corpo.

Até aos que não mais servem…
Até aos que não os têm.

Há quem morra o corpo, sem nada ter a elevar após o adeus…

Mas, há os que se elevam pela vida eterna…

Essa será a morada dos meus…

(Alessandra Capriles)

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