Enquanto houver fôlego
Haverá voz
Eu não me calo
Porque muito não falei
Me valorizo
Porque dólar não me paga
O que me apaga, já nem a sombra
Sou luz no breu
Ilumino meu próprio caminho
Faço eu a estrada que percorro
Desde que o mundo me foi vindo
Deslizo, escorrego, caio, levanto
Não preciso de muleta
Enquanto houver força
Faço da dor meu próprio antídoto
Das vísceras frágeis minha própria cura
Sou eu quem me seguro
Sou eu quem remo meus mares
Sou eu minha própria âncora e navio
Pra decolar comigo
Tem que ser mais do que piloto
Sou meu próprio motor e hélice
Já não choro mais
Se cai uma lágrima
É sal da vida
Tempero os dias com magia
Bruxa, velha, louca, vagabunda
Muita língua arde a fel
O que me arde
É menos do que as mazelas do mundo
Quando, aqui, chegaste
Eu já fazia história
Fiz das linhas a escrita
Ainda que tortas
Sempre acerto o verso
O que me dói
Dói menos do que despertar desacordada
Sou só, porque Deus é minha companhia
Ele e os meus
Fiéis os que foram abandonados
Enquanto outros roem o osso
O ouro brilha, mas não enche barriga
O que nutre vem de dentro
E, nada há no que é oco
Sou eco
A voz do mundo
A voz de todos
Dos muitos calados
Amordaçados
Acorrentados
Arrebatados
Agonizados
O que sufoca mais do que gás
É se calar na injustiça
É inalar o descaso, a ganância e a mentira
Vingança não me faz justiça
Sou filha do Pai que ama e castiga
Se no limbo estou
Não faço do presente destino
Aprendi que o perdão é o melhor caminho
Sigo meu rumo
Cuido da vida
De mim, não dos outros
Só dos que me querem bem
Leio o passado como bíblia
Mitologia
Um livro de histórias
Heróis, vilões
Cruzes, espinhos
Deuses e Ades
Mito só na ficção
“Demo” só se for “cracia”
Jesus morreu na cruz
E, tantas na fogueira
Ressurjo das cinzas, do fogaréu
Sou a própria chama
Fênix nos céus
Só a paz me interessa
O mal-me-quer fez meu bem-querer
Quem me ama sou eu, Deus, os meus, e os meus tantos “eus”.
(Alessandra Capriles)