Quem eu amo.

Ontem, inesperadamente, perguntaram a mim:

– Você me ama? É importante eu saber.

Pois… A quem eu amo?

Amo os pobres. Os miseráveis. Os que têm fome. Os injustiçados. Os loucos. Os empáticos. Os que não julgam. Os que conhecem as verdades da vida. Os que seguem íntegros.

Os não deslumbrados. Os centrados. Os que discernem. Os que se respeitam. Os que sabem respeitar. Os que aprenderam que todos somos ninguém.

Os que não viveram as facilidades, nem mal fizeram uso delas. Os que fizeram bom uso delas, e seguem humildes. Os que se revoltam. Revoluções são necessárias para o avanço da humanidade. Não para o atraso.

Os que buscam o conhecimento, e o utilizam para o bem. A sabedoria é a mais valiosa herança humana. A sabedoria é o anjo da guarda que habita em nós.

Os que pedem perdão. Os que sentem e vivem o perdão. E, só quem o reconhece e concede é Deus.

Os solitários. Esses são os que mais amo, pois aprenderam a se preencher e a se respeitar, mesmo na dor.

O solitário é uma jóia, que brilha por sua beleza simples. Ela foi lapidada por mãos humanas, após resistir à força bruta do tempo, da natureza e das ambições humanas.

Os solitários são seus próprios ourives.

Os sozinhos, pois nada é mais duro do que viver só, e isso é diferente de ser solitário. Não há fragilidade humana e social maior do que ser sozinho. Essa é a maior miséria.

Os que sabem se expressar. Os que sentem. Os que não se escondem. Os que ouvem e falam. Os quem não têm medo. Os que a quem lhes implantaram o medo.

Os independentes de aprovação. Os que sabem dividir. Os que partilham sem cobrar. Os que amam o povo, e duvidam de quem teme o povo.

Os que se isolam. Os que aprendem a observar as necessidades próximas. Os que dão o seu máximo, mesmo que seja pouco. Os que admitem quando nada podem dar.

Os que aprenderam que amar é um sentimento de reciprocidade, e não de cobrança. É um sentimento de pequenas grandes atitudes, que nada almeja em troca.

Amor que cobra é patológico.

Os que pescam. Os que partilham o peixe com os que não possuem instrumentos para o fazer por si.

Os que muito têm, e sabem se bastar com o necessário. Os que valorizam o necessário, e não romantizam a sua necessidade. Os que aprendem a urgência no olhar ao que é necessário.

Os que respeitam seus limites. Os que encorajam o respeito do próximo. Os que não romantizam o rompimento dos limites em prol do sofrimento.

Os que entendem tal sofrimento , e que o único sofrimento urgente é o que sofre pelo básico. Os que não têm dignidade, pois esses são invisíveis. Vivem à margem. Ninguém vê.

Amo os que dizem não, quando só têm o não. Amo os que dizem sim, podendo partilhar o sim.

Do mais não tenho ódio. Por mais que a palavra seja dita, muitos sentimentos não encontram suas palavras. Mas, tudo o que provoca dor não me desperta apreço.

Sejam pessoas. Sejam momentos. Seja o passado. Seja o presente. Seja o futuro. Seja o tempo ao tempo que for.

O meu expurgo ao Homem é o meu olhar aflito aos que têm dor.

Esses são os que mais têm urgência. Esses são os que não merecem nenhum tipo de julgamento. Não há regra para a dor.

Cada pé sabe o que te dói. Seja um sapato que aperta. Seja a terra que rejeita suas raízes. Seja uma muda que não floresce mais.

O amor é um sentimento único e solitário, que deve ser partilhado com respeito e em atos.

Estejamos sempre atentos com quem partilhamos o nosso amor próprio. Aos que, de fato, necessitam de amor. Aos que o fazem dentro de seus limites, e dão o seu máximo. Aos que o fazem sem julgamentos, nem nada buscar em troca.

Amor não tem regra, e é de constante aprendizado. Amor é sentimento Divino. Só quem o sabe de verdade é Deus.

(Alessandra Capriles)

Deixe um comentário