Sobre vilões e mocinhos.

A sociedade carrega o peso do estigma de seu próprio nome. O colapso mundial é o reflexo dos tempos apocalípticos que viemos, nós humanos, desenvolvendo, ao longo da gênese.

Essa reflexão serve como base para a análise da nossa existência e coexistência social de maneira ampla, que reflete diretamente na situação pandêmica que vivemos.

A sociedade está sempre dividida em, no mínimo, dois lados: ricos e pobres, direita e esquerda, mocinhos e vilões, bons e maus, certo e errado… o resto é subgrupo. E, assim, vivemos à sombra da hipocrisia, há décadas.

Pessoas estão morrendo aos montes. Há um desencarne coletivo sinalizando a catástrofe generalizada que vem se alastrando em forma de vírus. Pessoas estão matando e se matando, laços estão se desfazendo, paciências estão se exaurindo, loucuras estão se desenvolvendo, cabeças estão se perdendo, pessoas sãs estão tendo seu juízo prejudicado e julgado, tudo a mercê do descaso de quem vê apenas o seu próprio umbigo social.

No momento atual, não há uma pessoa que não esteja doente. Alguns disfarçam suas dores, outros revertem, outros escondem tão bem, que já nem a sentem… e deve ser uma dádiva não sentir dor… outros sofrem, outros enlouquecem, muitos morrem.

Estamos todos andando de um lado para o outro sem encontrar respostas. Estamos todos postos à prova da dicotomia: vilão x mocinho.

Não vejo candidato à sanidade padrão condizente em princípios a cargo maior que se possa pôr à prova. Não há. Há somente o colapso, e fantoches de interesses cada vez mais ínfimos dispostos em um tabuleiro de xadrez, ao qual muito se familiarizam. E, mais uma dicotômica disputa é dada entre brancas e pretas. Xeque-mate.

Assim estamos todos buscando um lado, uma verdade, uma certeza, uma vacina, uma esperança, uma salvação de qualquer natureza divina, uma palavra, uma regra clara, uma lei inviolável, um sopro, uma minúcia qualquer que nos dê um conforto à alma.

Estamos mais do que entre uma batalha de líderes (não tão) opositores. Afinal, de qual lado cada lado está?

A cada dia, um novo Jesus Cristo é lançado. A passos verozes cruzes se erguem em busca da salvação, a fim do resgate dos que não sabem o que fazem, e martelam pregos e espinhos desferidos ao verbo. A cruz é onde habita o povo, e não onde reluz o ouro. Não se enganem, cristãos, nem sempre está correto o que carrega o martelo, bem como errado quem carrega a espada.

Quais mortos são inocentes? A quem se julga vilão, por não ser direito, ou a quem apontam os demais dedos?

A sociedade adoeceu desde muito antes das disputas republicanas. Muitas cabeças foram cortadas com suas coroas. Os bobos já buscam o poder muito além da corte.

E, sempre paradoxais disputas. Não existe centro. Não existe, aqui, um terceiro elemento. Há somente interesses iguais disputados por ideais mesmos em corpos distintos. Assim vem sendo a sobrevivência. E, não há um dinossauro vivo para contar como começou a história. Não há um Adão, nem uma Eva, nem serpente, nem costela.

Só há uma certeza: atualmente, não há quem não seja vilão. Há somente quem se importe, e quem não se importe. Os mesmos dois lados entre o que importa e o que é descarte. Reciclagem.

Pessoas boas e más estão morrendo sob o julgamento de mesmas tais pessoas. Sob mãos de mesmas tais atitudes. Sob a foice de hélices soltas pelo ar, sem eixo, em seu próprio desgoverno.

O que é ser uma pessoa má? Quem é vilão? Quem julga? De qual lado está a razão e a certeza? Quem nos encoraja ao exemplo torto do que é certo e errado? Está tudo errado, e não há quem acabe com isso tudo aí.

Pessoas boas estão adoecendo à margem da maldade alheia, disfarçada de sanidade. Pessoas sãs estão incorporando as próprias loucuras combatidas. Quem combate a loucura, a doença e maldade também está adoecendo. Não há um louco dentro do hospício. Não há um ébrio fora do bar.

A sobrecarga mundial está no limiar do seu fim, meus caros.

Quem neste momento não luta pela própria vida? Quantos não lutam pela própria sobrevivência? Quantos lutam, de verdade, pelos seus? Quem nesta batalha luta, de fato, pelo próximo? Os lados são os mesmos, mas ainda há quem busque partido, e o próprio nome esclarece qualquer dúvida.

Ao nascermos, estamos automaticamente rotulados e catalogados. Caráter? Pensamento? Ideais? Princípios? Não. A classificação é muito mais ampla, e quem dita é o poder. Não nascemos bons ou maus, mas nascemos pobres, ou ricos, e este é o princípio e o fim de qualquer disputa social.

Caráteres estão sendo moldados. A maldade humana está crescendo a passos largos, em nome do poder, e a regra é clara: vidas não importam.

E, definitivamente, quem nos reja é o que também menos importa. Porque onde se vê poder, não se vê povo. Os muitos juízes estão todos soltos, e todos os dedos apontam ao lado oposto. O narcisismo político corrompe a ética, e não resta qualidade digna que se eleja.

Mas, o povo é quem está louco. É o povo quem grita. No reino encantado da fantasia da saúde mental ser sonso é ato real.

(Alessandra Capriles)

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