Sobre isolamento e solidões…

Quantos são os que se sentem sós em suas solidões… As mais distintas carências tomam os dias isolados… Em cada cárcere, alguma ausência, algumas faltas, algumas sobras, a incompletude é o primeiro susto da solidão…

Uns sentem a falta da rotina, outros da liberdade, do ir e vir, das pessoas, de seus ofícios, de seus lazeres… Outros dos benefícios, da diversão, de seus prazeres, de seus vícios, de seus atos ilícitos, de seus desatinos…

Não importa o quê e a quem, alguma falta no isolamento se fez… Exceto aos alheios, que já vivem sós em multidões e suas próprias solidões e ilusões…

Posso caminhar ao lado dos isolados, porém com certo distanciamento, sob a perspectiva de que já o vivia…

Distanciamento social pode parecer ser uma prática complicada para um geminiano, e, de fato, para a maioria o é… É uma peleja constante entre a completude e a falta, tanto que o símbolo do signo são duas pessoas juntas e iguais, simbolizando a dualidade de personas e o duelo entre si mesma… Pois… aqui em casa, somos dois membros do mesmo zodíaco, e nada tem sido fácil: transições de fases, descobertas, redescobertas… Gerações e percepções em peleja constante entre si e com seus vários outros “eus”…

Porém, hoje, vivo e convivo muito melhor com meus ideais e a pessoa que sou… Independente de estar, ou não, saudável, estar, ou não, conseguindo manter uma renda, podendo concretizar, ou não, projetos… Enfim… Posso não ser bem vista pela economia do país, pois entrei para a lista dos que a previdência quer descartar, mas sinto que tudo o que vivi e vivo moldam melhor meus ideais e o respeito e a relação comigo… A solidão trouxe uma atenção minha que faltava a mim…

Pois… Eu gosto da solidão… Ela me cura, e me faz bem… Sinto a paz necessária, que muitas companhias jamais me trouxeram… Gosto de estar comigo… É quando mais consigo ser eu, pois percebo que absorvo demais do meio e dos outros, e isso é extremamente prejudicial para ambas partes… O ambiente absorve e transmite as energias, se não podemos circular, a energia muitas vezes também não circula, e se torna paralisante ao corpo e à mente… Movimento gera movimento em todo o cosmos…

Gosto de estar comigo… Gosto de quando me conecto comigo, e com o que me faz bem… Gosto de andar de bicicleta, de ouvir uma boa música, fazer uma boa comida, beber um bom vinho, ver um bom filme, aquela série que ninguém mais quer ver, desfolhar um livro esquecido na estante, escrever os próprios pensamentos, organizar a casa, a casa se manter organizada, ou mesmo não fazer nada, olhar o céu, e relaxar deitada na rede… Nem tudo faço, ou posso, mas é do que gosto…

Como mãe, gosto de estar com meus filhos, e sermos somente nós… Mesmo nunca tendo sido somente nós… Para mim, é como se o mundo bastasse… Viveria assim para o resto da vida, ou até que batessem suas asas ao mundo… E sabemos o como o mundo pode ser cruel…

Sou uma pessoa que se acostumou à solidão… Mais estive com ela do que com qualquer outra companhia, mas também sinto algumas faltas…

Sinto falta do bom diálogo, de poder ver os semblantes das pessoas, do abraço sincero, do companheirismo, das palavras amigas, das presenças que preenchem até quando em silêncio, das gargalhadas com alegria, das pessoas de caráter, da verdade, de gente honesta, de bons candidatos, dos que mantêm seus princípios, das purezas das almas, das boas influências, dos que se mantiveram em isolamento, dos que também se indignam, porque sentem, e também gritam com voz de razão… Não se calam, porque o silêncio fomenta o medo e a injustiça…

Sinto falta também da minha saúde amiga… Essa é a mais sentida, e junto com ela me traz a falta do cuidado e do olhar alheio… Do olhar fraterno e sincero… No mais, a solidão é o melhor remédio para o que mais adoece do que cura… A solidão também nos cura…

Findado o isolamento, algumas solidões permanecerão… A daqueles que perderam vidas… Aqueles que conviverão com somente memórias, e não terão seus tão aguardados reencontros…

Para nem todos tudo será festa e carnaval… Para muitos, a terça deu lugar à quarta-feira… A folia virou luto…

Para esses, o isolamento trouxe a solidão mais sentida…

Pois… Quem sente sofre… E o sofrimento é o que distancia as solidões e as pessoas… Ninguém quer sofrer, ninguém quer sentir, ninguém quer unir a sua solidão ao sofrimento… Ninguém quer esse casamento… E, como é difícil sentir sozinho… Só quem tem a solidão sentida como companheira sabe a sua mensura no sofrimento…

A pandemia veio para revelar, não para mudar pessoas…

Pois, por isso, para muitos, o isolamento trouxe uma solidão próxima a muitos, porém nunca visitada: o convívio consigo… Diversos são os que não suportam esse convívio… Tais pessoas mais precisam de companhia, do que sentem falta…

Ter a solidão como amiga é uma prática milenar dos grandes sábios eremitas…

A solidão nos ensina a nos preenchermos com nós mesmos… Com nossos sentimentos, nossa essência… Os nossos filtros em relação às pessoas e aos lugares se tornam mais sábios… E, quando assim nos bastamos, tornamos-nos melhores companhias aos outros, que também partilham da mesma simplicidade…

A reinvenção e o novo normal verdadeiros nada têm a ver com a economia, o empreendedorismo, ou a tecnologia… Sob um olhar romântico, a real essência tem a ver com a evolução Humana… A relação do Homem consigo mesmo… O quanto de nós interfere no meio e na vida dos outros, emocionalmente falando, e o que podemos fazer para mudar e fortalecer isso, doando um mínimo de si…

Mas, o mais importante é refletirmos: somos o que queremos para o mundo? O nosso eu verdadeiro é o mesmo “eu” que buscamos fora de nós? Buscamos laços, ou nós? Com que olhos enxergamos o outro na nossa vida e o seu real valor? Será que fazemos pelos outros o mesmo que faríamos por nós?

Que a solidão nos seja amiga, mãe, irmã, e não madrasta…

(Alessandra Capriles)

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