Quem está nas trincheiras ao teu lado?

Ao longo da vida, conheci muitas pessoas, porém fiz poucos amigos.

Nunca fui popular, até o ensino médio. De antes disso, não carrego um que eu bata no peito para dizer que o é. Abusivos, invejosos, interesseiros, maldosos, falsos. Muitos deles. Ao longo da vida, são muitos. Um ou outro, salvava, mas não vamos confundir amigos com colegas.

Quando ficava desempregada, todos os que me cercavam, iam embora. Somos máquinas, precisamos produzir.

No trabalho, então… Amigo? É cobra engolindo cobra.

Quando parei de sair, porque, no fundo, nunca gostei de aglomeração, mas ia pelas companhias, e pela falsa ilusão de diversão, aprendi que aquele amigão de night só quer o seu brio.

Quando percebiam que eu não curtia as suas ondas tortas de drogas, e toda aquela ilusão e fantasia que se esconde por detrás de um bando de desesperados por falsas alegrias, doidos de pó, doce, bala, lança etc, o livramento era sempre maior. Ninguém quer interferência nos seus esquemas.

Quando percebiam que eu não sou rica, e que não obteriam vantagem, nem lucro algum com aquela encenação, já cabiam em uma mão.

Quando percebiam que não teriam ali um estepe para sexo casual, corriam, e o alívio era absurdo.

Quando casei, a lista diminuiu ainda mais.

Quando sofri abuso e agressões, nem sabia com quem falar, sofri calada por muito tempo… Fui desacreditada por todos esses citados acima, que se foram, mas eu sabia que aqueles poucos não me dariam as costas.

Quando adoeci, então, o que fazer? Pobre, desempregada, traumatizada e doente? Quem quer se aproximar “dessa energia pesada”? Era “drama”. Era “carência”, Queria “chamar atenção”. Era “falta de Deus”. 🙄 Ah, mas também sempre surgem alguns oportunistas, nessa hora, ou os narcisistas, que se alimentam da sua fragilidade.

Neste momento da minha vida, pós desemprego, pós abusos e agressões, pós pandemia, pós Covid, pós divórcio, pós dívidas enormes, pós afastamento da família, pós processos judiciais, pós descoberta de mais de 7 doenças crônicas, muitas degenerativas e incapacitantes, pós outros problemas mais que cabem somente a mim e aos poucos que sei quem são, reafirmei quem o são.

Poucos são os de verdade. Os que te oferecem ajuda sem nada em troca, porque sabem que tu não tens nada a oferecer.

A esses poucos, minha eterna gratidão e carinho. Sei que não estou só. Desacreditada com o governo, a economia, a saúde, a sociedade, de modo geral, mas não estou só.

Amigo não é quem curte e aplaude a tua popularidade e as tuas selfies, e sim aquele que te acompanha a um exame, a uma consulta, que te carrega, que te ajuda, que te estende a mão, o ombro, o abraço, a palavra, que guarda as suas muitas dores para ir ao teu encontro, para oferecer uma ajuda.

Amigo de verdade não mede barreiras para estar ao teu lado.

Muito bonito ver um monte de amigos postando lindas homenagens aos “amigos”, que têm perdido, durante a pandemia, seja para o vírus, outras doenças, drogas, ou suicídio. Os mesmos amigos que só estavam ali para farrear, e obter algo em troca. Os mesmos que se drogavam e bebiam juntos, e amanheciam largados pelas calçadas.

Ah, mas era lindo, lúdico, é o carnaval! É a arte! É liberdade de expressão! Só que não.

Quando foi que ofereceram algum apoio, quando tais estavam apresentando os primeiros sinais de que algo não ia bem? Mas, drogas, sempre tem um para oferecer. É um meio “de muitos amigos”.

Não se iludam. Não me iludo. Se ninguém estiver para somar na vida de um outro alguém, suma.

Valorizem a si, e aos seus.

(Alessandra Capriles)

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