Aos mestres com carinho.

Carrego na lembrança diversos bons professores. De todas as fases do ensino, sempre tiveram aqueles que fizeram toda a diferença.

No ensino fundamental, fui bolsista, do C.A. até a antiga oitava série, em uma tradicional escola de freiras, no Flamengo. De lá, carrego comigo quase todos. Foi uma fase bem complicada para mim, e muitos deles serviram-me como mães e pais, além de professores.

Eu não era aquilo que se pudesse chamar de aluna exemplar, mas sempre acabava tendo bons resultados, devido à paciência e o carinho que eu recebia de todos os profissionais da escola, principalmente, das freiras e da diretora, que também puxavam a minha orelha, quando necessário. E quase sempre era necessário.

No ensino médio, estudei em três escolas diferentes. Na primeira, em Botafogo, descobri-me professora. Não foi uma escolha, foi uma permuta por uma bolsa de estudos, que eu mesma, aos 14 anos, procurei a escola, e pedi diretamente ao diretor. Aula de manhã, monitoria pela tarde, e aulas particulares na parte da noite.

Lá, estudei por dois anos, porém ocorreram muitas mudanças e fatos adversos outros, foi tudo muito pesado para mim, e acabei repetindo o segundo ano.

Foi Deus. Na segunda escola, que ficava na Tijuca, conheci meus melhores amigos. E também, tive a oportunidade de vivenciar um aprendizado mais abrangente, e pude contar também com o apoio de todos os professores, funcionários, e a diretora, que era uma figura única e excêntrica. Diziam que eu era filha dela, e ela mesma um dia disse que eu era como uma filha para ela. Saudades. 殺

No ano seguinte, a escola foi vendida para um grupo de pré-vestibulares, e eis que virou a terceira escola na qual estudei.

Desta terceira escola, carrego três mestres especiais na lembrança: um professor de física, um de matemática e uma professora de literatura.

O que os três professores tinham em comum comigo? A poesia. Eu era péssima em física e matemática, e tinha déficit de atenção (além de ser meio autista). Passava horas escrevendo poesias, mas mesmo assim dava conta das provas, porque eu sempre estudava para elas, justamente para compensar a falta.

O professor percebeu que eu passava a aula inteira escrevendo algo que não era a matéria, quase psicografando, e foi ver o que eu fazia. Foi quando ele percebeu que era poesia, e então passou a versar a matéria, quando explicava para mim.

Foi quando a disciplina começou a prender a minha atenção, e eu conseguia compreender. Ele também era poeta, bem como o professor de matemática. Eles, além de poetas e colegas de trabalho, eram amigos.

E, assim passávamos os intervalos criando e recitando. Guardo até hoje os poemas que eles escreveram para mim, no dia do meu aniversário.

Já a professora de literatura, foi mais do que especial. Quase no final do ano, mostrei a ela o meu caderno de poesias, e meio sem jeito perguntei se ela poderia revisar para mim. O caderno já estava todo esculhambado, de tanto eu carregar de um lado para o outro, e arrancar folhas de rascunho, mas entreguei mesmo assim.

Pois, prontamente, ela não só o revisou, como mandou reencadernar, e me entregou dizendo que eu era uma poetisa.

Senti-me recebendo o meu primeiro livro das mãos de uma editora. Ela me proporcionou dois dos momentos mais felizes da minha adolescência. Esse foi o primeiro, e o segundo foi um concurso de poesias, que ocorreu na unidade de Piratininga, e eu fiquei em primeiro lugar, e ainda levei o segundo e o terceiro para dois colegas que não puderam ir.

A partir daquele ano, a poesia nunca mais saiu de dentro de mim.

No primeiro ano da faculdade, estudei em uma universidade em São José dos Campos. Lá, a poesia ganhou proporção, e eu fiz grandes amigos poetas para a vida toda, incluindo duas professoras e um professor muito querido. Ele dizia que eu era uma bruxa, e assim me chamava carinhosamente. Recebe meu carinho, bruxo! ️ Melhor festa da piscina, no temporal, da vida! Sem mais comentários.

De volta ao Rio de Janeiro, anos depois, retornei à faculdade, tranquei novamente, e destranquei mais alguns anos depois, após me tornar mãe.

Anos muito loucos. Só eu sei os perrengues que passei.

Graças a Deus, mais uma vez, pude contar com mestres maravilhosos. Esses, foram mais do que mestres. Foram grandes anos de aprendizado, conhecimento, autoconhecimento, amadurecimento, sem falar da grande oportunidade que tive de fazer o intercâmbio, em Portugal.

Ó, pá! E, lá na terrinha, mais uma vez, lá estavam os melhores mestres, e também escritores e poetas.

Ao longo da vida, tudo me foi mestre. Mas, nada teria sido tão correto sem eles em meu caminho.

Gratidão é a palavra. Sou grata a cada um de vocês por tudo o que fizeram por mim. Tudo o que sei, devo a vocês, professores, mestres, amigos e poetas.

Esse mundo não seria o mesmo sem vocês fazendo a diferença. Ensinando, aprendendo, trocando, compartilhando, acolhendo, e fazendo com que os olhos e o coração se abram para o conhecimento.

Nada seria sem vocês. Desejo a cada um o reconhecimento devido, muita saúde mental e paciência para aguentar o rojão, e amor. Porque nenhuma profissão carrega mais amor e humanidade do que ensinar. Transmitir o conhecimento é salvar vidas.

Obrigada por me salvarem!

Parabéns também aos colegas de formação. Parabéns a todos os que são mais do que professores: são educadores. Admiro cada um de vocês.

(Alessandra Capriles)

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