O preconceito não tem berço.

Se eu sempre causei, agora, vou causar. Sei que lá vem mais “cancelamento”, castigo e chibatada. Pois…

Nasci e cresci em um ambiente extremamente machista, patriarcal estrutural, racista, capacitista, homofóbico, e essa cultura percebo, tanto na árvore materna, quanto paterna.

Fui criada na cultura de que mulheres devem competir, e só a falsidade impera. Meu Deus. Cada cena que assisti e assisto, que me dá até medo. Inclusive, entre as minhas próprias irmãs, a disputa sempre foi instigada.

“Fulana é mais bonita”. “Ciclana” é mais inteligente”. “Beltrana é mais rica”. “Você deveria ser igual”… 🥱😴

Uma lista enorme de comparações e lições de deseducação familiar machista estrutural que não tem fim.

A vida inteira, fui tida como a ovelha negra (e também o bode expiatório) da família, por estar sempre discutindo, e quebrando paradigmas e estigmas sociais.

Não sei dizer qual berço é mais preconceituoso, mas de ambos lados percebo ser enraizado demais, e sempre tive receio de o meu filho crescer também com esse estigma.

Quando ouço dizerem para ele “você está igual à tua mãe”, por ele também debater tais questões sociais, sinto enorme orgulho. 🥰

Como, há pouco, ouvi repetirem a frase a ele, após ele debater com uma senhora extremamente preconceituosa e racista, que comentou sobre uma pessoa na televisão:

– Que mulata bonita…

Estou eu na cozinha, quando ouço ele tirar as palavras da minha boca, na mesma hora, e retrucar:

– Quando aparece uma mulher branca, a senhora fala “que branca bonita”? Não! Não fala! Raça não é adjetivo! E, outra, ela não é mulata, ela é negra!

Daí, começou a discussão. Quer iniciar uma discussão sem fim? Discorde de um narcisista. Ele jamais reconhecerá seu erro, nem pedirá desculpas.

Faz meia hora, que ouço de onde estou ele dar uma aula sobre combate ao preconceito estrutural à tal senhora.

Do racismo, passou para o machismo, que foi para a homofobia, que foi para o capacitismo, e uma aula que eu bem sei onde e com quem ele aprendeu.

Meu orgulho! ❤️

Cresci ouvindo coisas como: “aquele teu amigo neguinho”, ou “o teu amigo gay”, ou “a fulana é doente”, referindo-se a pessoas com transtornos, ou neurodivergências, até mesmo da família 🤬.

Eu mesma sofri o preconceito na pele. Cresci sendo chamada de autista, mas nunca investigaram para diagnosticar, tratar e acolher.

Tive meu cabelo alisado aos 5 anos de idade, porque eu não parecia com a família. Em trabalhos e empregos também sofri preconceitos pelas mesmas questões, e outras mais.

Sempre fui a maconheira, comunista, esquerdodopata, tatuada, cheia de piercing, autista, doente, que anda com um bando de gay, pobre, favelado e “gentinha”.

Lembro de um episódio, que me fez despertar para o preconceito, quando meu padrasto, que era nazista praticante, fissurado em armas, guerra, carros, e com fortes traços de psicopatia (que Deus o tenha ✝️), falou:

– Não quero mais esse viado neguinho na minha casa. Nem essa empregadinha.

Ele se referia a um amigo meu negro e homosexual, e uma amiga de origem humilde, cuja mãe trabalhava como doméstica.

Dias depois, no dia do meu aniversário, ele me deu um tapa na cara, a mando de uma senhora que falou:

– Você só se envolve com gentinha! Não procura uma pessoa decente!

Referindo-se a um ex-namorado, à epoca, também de origem humilde.

Essa sequência de fatos me fez despertar: vou lutar contra o preconceito!

Foi, e é uma batalha exaustiva, ainda mais quando se está inserido em um meio de preconceito estrutural enraizado.

Deve ser fácil ser antifascista em meio a outros que pensam igual, mas é exatamente em meio ao fascismo que se deve lutar contra.

Agora, já tem uma hora que a discussão começou. Enquanto escrevo, estou ouvindo a discussão sem fim.

Esqueci até das dores…

Meu peito se enche de força e esperança, quando vejo meu filho agir assim. Ele precisa ser assim. Precisa aprender a lutar, a se defender, defender seus direitos e os dos outros.

Tem seu lado negativo? Tem. É óbvio. Como toda luta, é guerra! Tiro, porrada e bomba…

Eu já fui suspensa da escola, por dar uma cadeirada em um playboy que praticava bullying contra meus amigos. Depois, a diretora chorou, e me pediu perdão, quando soube o motivo.

Já briguei na rua pra defender mulher, que nunca vi, de homem machista.

Já bati de frente, debati e caí na porrada 572 vezes com ex-machista, abusivo e agressor. Na maioria das vezes, infelizmente, levei a pior. Cansei, e denunciei.

Já comprei brigas mil por injustiças sociais, e até já parei na delegacia, lutando para defender pessoas injustiçadas.

Acho que sou uma defensora dos direitos humanos nata. Sou bruta, tipo Pit Bull fêmea, mas sou sensível demais. É difícil explicar.

Apanhei muito, na vida, de todas as formas. A gente fica calejado, mas também mais forte. Aprende a lutar e a se defender. A vida foi quem me criou assim. Aprendi a sobreviver e a lutar, na marra. Eram os outros, ou eu.

Foi assim que aprendi a aguentar, e não demonstrar sentir dor. Um sacrifício que jamais repetiria, mas foi necessário.

Ser mãe solteira, e depender da ajuda dos outros também nunca foi fácil. Nunca deixei minhas fraquezas prevalecerem aos olhos do meu filho. Não posso.

Aprendi a chorar calada, mas ensino a ele a importância de chorar, enxugar as lágrimas, e seguir.

É muito difícil para mim estar como estou. A “braba”, hoje, não é mais tão “braba”. Mas, luto como posso. O corpo está frágil, a cabeça já esteve melhor, mas minha alma, meu espírito e minha voz seguem fortes.

Discernimento e respeito. Sempre repito essas palavras ao meu filho. O que é certo é certo. O que é errado é errado. O que favorece ao coletivo é certo. O que fere a si e ao próximo é errado.

Independente de credo, partido, raça, gênero etc.

Meu filho está crescendo. E, se aos olhos alheios ele se tornou “um problema”, aos meus, a admiração só aumenta.

Viadu, acredita, porque tu és forte, lindo e inteligente!

Quem te crítica, não te merece. Tu és para poucos, e tua presença é luz. Acredita!

Te amo, mini mim! ❤️

Bicoitãozin de mãe mais lindo do mundo! E, sim, sou coruja! Sou onça, mas também sou coruja…

(Alessandra Capriles)

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