O gatilho seco.

Julga, julgador
Quero ver passar um dia
Segurando as lágrimas da dor

Enquanto apontas ao outro o dedo
Engatilhas outros quatro para ti

Os Dias de Glória chegaram
Mas, não estou nessa vitória
A minha batalha é contra a derrota

Minha, do povo, de todos
Dos sem teto, sem terra
Com sede e com fome
Dos que consomem o veneno
Daqueles que mal usam de seu sobrenome

Palácios se erguem
A especulação imobiliária cresce

Buracos no asfalto maquiados
Estacas embaixo das marquises
A rua cada dia mais ao relento
Enquanto rostos sofridos
Por cada esquina, seguem estampados

Os alicerces do meu pavimento sucateiam
E, a sabotagem o levam à ruína
Vôos altos comemoram seus rasantes

Herdeiros das fortunas cegas
Bandos e contrabandos
Desculpa, mas eu não caminho por essas bandas

A minha história quem escreveu foi o destino
Por muito pouco, não desatino
Dos atalhos, somente desvio
A curva só faço quando orientam meus guias

Intuo a força que me sustenta
Se muito o corpo já não suporta
A alma sussurra, e me ergue
“Filha minha, aguenta!”

Não há poesia na vida
Não há verso que dissipe a dor
Se eu rimo é um choro que ficou contido
Em busca de algum outro abrigo

A face já pouco disfarça
Nem sorriso, nem lágrimas
A indiferença virou meu semblante
De uma mente deveras falante

E, ela grita

A minha voz contida hoje esbraveja
Enquanto em um bar qualquer
Muitos tilintam copos com suas cervejas

Faço da luta, da escrita e da leitura tatuagem
Marco na pele o conhecimento
E, aqueles que me protegem, e me dão coragem

O que faço da vida é o que ela fez de mim
Apenas mais uma
Em meio a tantos
Sobrevivente…

Não há romantismo na romaria de um sofredor
Senão, sofrer não rimaria com dor…

(Alessandra Capriles)

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